Tupac levou Miguelti a umas escadas que desciam para um salão coberto de lava com uma ponte de pedra no meio até à outra extremidade. Miguelti pensou primeiro nos cuidados que deveria ter num ambiente como aquele, então, pelo sim pelo não, pegou no lenço de veludo azul atado ao braço direito que os rapazes das maravilhas arcanas (ele e Vivelti, apesar de se apenas terem referido por tal distinção apenas um par de vezes e – Tendo Miguelti quase a certeza – Não já Vivelti se lembrando sequer dessa ordem) usavam para se distinguirem dos civis, e com ele improvisou uma máscara. Estava num enorme salão de lava. Num enorme salão de lava (- objectiva-te. Atenção ao que vês. A realidade acabou de ser virada do avesso e esticada por dentro de si própria. Ou algo assim, e, n- não sejas condescendente contigo mesmo, pergunta pelo Vivelti depois), tentava pensar.
Um enorme salão de lava. Vivelti tentaria, enquanto procuraria fechar a boca como ele, calcular a área e o volume do salão onde se encontravam para criar uma boa estimativa da altura e largura e profundidade, etc. – do espaço físico, mas Miguelti só pensava Isto é enorme isto é lava por toda a parte
O salão tremeu com pó de pedra cinzento a cair do tecto em fios bem delineados. Miguelti agarrou-se a Tupac e tentou criar um discurso coerente: - Jjá esteve aqui? Isto é – quanto, é da mina como dizia, mas como –? – Olhando ao mesmo tempo para o chão com cuidado, não fosse o diabo tecê-las e tropeçar no chão ou na capa. Os vapores subiam em espiral, do lago de lava, laranja com borrascas pretas, e bolhas vermelhas que inchavam devagar, e rebentavam preguiçosas, com personalidade imperscrutável. Miguelti via que o tecto, lá no alto em abóbada tinha algumas chaminés pequenas, mas não criavam qualquer esperança – impossíveis de se alcançarem, não eram sequer uma saída. E as paredes em contacto com a lava eram só paredes. E no fim do salão do lago de lava com a ponte de pedra e sem qualquer evento até esse instante – o que começava a preocupar Miguelti – outros degraus que subiam para um outro lugar qualquer que lhe parecia tão distante como uma montanha de neve onde Miguelti estaria, imóvel, tiritando, nú, contemplando a noite preta. De novo no lago de lava,, Miguelti expirou vapor na nova passada, e foi nestas observações e ideias de Miguelti que a Hetero-esfinge apareceu da lava, elevando-se verticalmente como um torpedo num arco de fios de escória, voando e sacudindo-se no ar para tirar do pêlo castanho as últimas gotas de rocha líquida, um humanóide de 6 metros em roupagens de estilo egípcio, mas de cristal brilhante, amarelas e oscilando entre o azul e o roxo, uma coroa de divindade terrena do mesmo material na cabeça, olhos amarelos como sóis a combinar com o ar de profunda fúria geral que irradiava da sua face, um bastão na mão direita, e uma cauda grande e grossa demais que se virava e revirava enquanto das asas estendidas e activas, a Hetero-esfinge dava cambalhotas e piruetas no ar, aterrando à frente de Tupac e Miguelti com um joelho no chão e uma imponência atemorizadora, ainda antes de a falar ter começado EU
EU
SOU A HETERO-ESFINGE E E
XIJO UMA
PERGUNTA RESPONDER
CERTO É VIVER RESPONDER
ERR
ADO É
MORRER
Projectando a sua voz pelo éter!., pensou Miguelti, a sentir uma mão a agarrá-lo e a gritar Foge!, enquanto a esfinge
QUAL
É A QU
ARTA DIMENSÃO
- Foge caralho foge ou ela mata-nos! – Tupac atirou Miguelti pelos colarinhos por baixo das pernas da Hetero-esfinge, arriscando fazer o mesmo consigo logo no mesmo momento, e a Hetero-esfinge olhava para trás, momentaneamente surpreendida, substituindo-a um esgar de fúria ainda mais vincado e penetrante, começando, para terror de Miguelti e Tupac, a virar-se quase imediatamente na plataforma de pedra estreita, mexendo os cascos, quebrando bocados da ponte que se desintegravam na lava.
- Baixa-te, baixa-te! – Atirando Miguelti imediatamente ao chão logo a seguir a se levantarem para fugirem,, e ainda bem que o fez, pois um momento de segundo mais tarde e teriam sido apanhados pelo gesto violento em arco que a Hetero-esfinge fez com o bastão sacramental, enquanto se virava na direcção dos dois, e teriam sido projectados uns bons vinte metros, com vários ossos partidos e lesões internas caindo mesmo no meio da lava.; seguramente o fim,, entretanto Tupac voltava a pegar em Miguelti e a carregá-lo enquanto fugiam pela plataforma, tropeçando e correndo; Por esta altura a Hetero-esfinge estava já voltada para eles, ligeiramente dobrada, com as asas bem esticadas de profunda irritação – muito próprio das esfinges, e só delas, disparando raios contínuos abrasivos dos seus olhos amarelos, alguns, com a trajectória em cone e inflamando a lava à volta dos dois homens e da esfinge, outros falhando o alvo e destruindo bocados da passadeira atrás deles, alguns as cabeças dos dois fugitivos, Tupac por vezes a desviar com a mão a cabeça de Miguelti da trajectória dos raios; continuavam
QUAL É
A RESPOSTA
A fugir e a desviarem-se como podiam dos raios oculares amarelos que a Hetero-Esfinge projectava, até esta se esticar, Miguelti estando quase no limiar da formação de um pensamento, e bater as asas, e elevar-se num único salto; em simultâneo atingiu com um disparo certeiro uma parte mesmo à frente dos fugitivos da plataforma que percorriam, despedaçando-a; a onda de choque e a surpresa fizeram Tupac tropeçar, caindo, lentamente, em direcção à lava imperdoável, mas, conseguindo agarrar-se nos últimos momentos possíveis a uma secção da pedra esburacada, com um pé ainda preso no topo, com Miguelti a segurar-lhe o braço desamparado, gritando uma mesma sílaba, em tom estridente. Uma aguda onomatopeia. A esfinge manteve-se no ar em discurso de texto silencioso. Mesmo a la esfinge., hesitando entre a certeza de morte e a sua noção distorcida de socialização; e estalando a cauda como um chicote vivo e encaracolado, cujo som se desfez, no meio do troar geral; Miguelti e Tupac tinham conseguido levantar-se e voltar a tentar correr, apenas por serem desequilibrados mais uma vez, já algo perto da saída que, como característica reconfortante, tinha uma altura pequena demais para a Hetero-esfinge nela se meter, com a agravante desta vez ter-se destruído com as rajadas devastadoras dos olhos da esfinge um segmento inteiro da ponte com vários rochedos separados, estáticos à tona na lava, alguns deles do tamanho de pedregulhos, e Miguelti e Tupac ambos faziam o melhor esforço para se segurarem nessas plataformas,, com a esfinge já por cima deles, as asas e o corpo a fazer-lhes sombra, preparada para os aniquilar com o fim da fuga possível de ambos
QUAL É
A
- Estamos nela! Estamos nela neste momento!! – Tupac berrou, tentando segurar-se à sua pedra presa a algo na lava, invisível.
A Hetero-Esfinge piscou os olhos azuis eléctricos, soltando fagulhas das córneas lisas; rapidamente., e virou o seu corpo no ar numa pirueta, apontando o queixo para baixo, mergulhou quase na vertical na lava a uma velocidade quase escapando ao limite de captura do olho, a lava como as águas de um lago agitou-se e encheu-se de turbulência, acompanhada, durante algum tempo por um som ensurdecedor que provinha das profundezas como algo a ser sugado até aos limites das profundezas da crosta terrestre. Depois o silêncio relativo. E os únicos barulhos que se ouviam eram das bolhas de lava. A sublimarem, a encherem, e a rebentarem. (Como) Num grande caldeirão.
- Mraaarchgaa…!! – Tupac foi buscar todas as suas forças – para se levantar, saltar para o que restava da plataforma, ao pé dos degraus da saída, esticar-se, e ajudar Miguelti a levantar-se, que estava na iminência de cair; pegando nele e empurrando-o, aos tropeções, para ao pé dos degraus que davam para a saída – é sempre a mesma merda!!
- O que é sempre a mesma merda?... – Disse Miguelti, ofegando.
- A Hetero-esfinge, a Hetero-esfinge – Faz-me sempre uma pergunta que eu não sei responder. Depois quando está quase a matar-me eu respondo ao calhas algo qualquer e ela vai-se embora…
A saída do salão de lava dava para um corredor estreito e escuro, sem luz, e depois para uma curva de noventa graus, onde a escuridão continuava; e onde depois, já suficientemente longe do sítio onde tinham vindo para se sentirem seguros e se refazerem do susto, e dos acontecimentos, se sentaram – Tupac atirou-se para o chão, e depois sentou-se. Encostaram-se à parede, lado a lado.
- Talvez – ponderou olhando para cima, ignorando Miguelti – a tua vinda tenha sido um sinal
Ao longe, parecia-lhe ainda ouvir o eco da pergunta da Hetero-esfinge – Qual é a resposta… – ameaçando.
A respiração de Miguelti tinha algum sabor a sangue (como é normal). Batendo contra a gaiola dourada – contra o sol do seu peito. A sua camisa e jaqueta empapadas em suor. Tupac dizia algo, explicando ou explicava a Hetero-esfinge ou a sua particular teoria que Miguelti: Aqui, imortal, não,
“…Porque ela está sempre a perseguir-me e sempre a tentar matar-me e eu nunca sei a resposta” gelo. “E eu nunca sei as respostas e na última hipótese em desespero respondo ao calhas e ela vai-se –“
- …!
E Tupac falava ante o refazer chocado das noções de lógica de Miguelti – e de abstracto, fechando os olhos, suspirando, sangue e ruído, a fala, a borbulhar. Devagar, depois da esquina. Um lago de lava e um gigante assassino.; Uma esfinge gigante assassina.
As suas considerações assaltavam-lhe a mente, bem como as palavras de Vivelti e do professor Strutermutter, de alturas e ocasiões passadas, mesmo dispensáveis ou corriqueiras, que sentia não serem de desprezar.
- Tupac – disse, levantando-se – se não se importar, penso que vou continuar, sozinho.
- Hã? – Começou a levantar-se também – sozinho? Tu também? Sozinho, sozinho porquê, sabes o quão –
- Pois está bem – cortou Miguelti, na tentativa de o manter sentado – mas, eu vou sozinho à mesma. Porquê: milhares de razões. Percebo a dúvida, a primeira – precisamente prende-se com a possibilidade de ir andando – abriu a boca – … não lhe consigo explicar. No tempo que tenho disponível: seria impossível – o que pretendo fazer. Se esteve mesmo com o meu amigo, como teve oportunidade de dizer, isso já não interessa. Tenho de o procurar – sozinho. E sair daqui sozinho.
- Artificial… – murmurou Tupac, abanando a cabeça e ignorando de imediato, por completo, Miguelti. Desistindo, repetindo – artificial, como eu pensava…
- Eu estou sempre a perguntar-me o mesmo; não se preocupe – e, virando-lhe as costas, abandonou-o.
O corredor era escuro e de um material que não era a pedra. Felizmente, havia um só caminho, para a frente. Serpenteando, em linhas rectas. Ao longe uma porta algo visível no espectro violeta e negro. Ainda ouviu ou pareceu ouvir a voz de Tupac dizer-lhe algo em, naturalmente, consonância com o resto da Mina – essa porta não vai dar aos mesmos lugares para ti e para mim – considerando ainda a porta, e a distância, começando a perceber; ignorando o que faltava; eventualmente chegou à maçaneta, e rodou-a. O pensamento formou-se: não o pensamento do que viria, ou o que iria encontrar a seguir; ou se até, no meio de uma espécie de paralelismo existencial, conseguiria sobreviver a toda a avalanche viva de conceitos vivos que reverberava ou parecia reverberar das paredes da mina, mas antes para que lado abriria a porta,
A Seguir: Parte 7
terça-feira, 4 de maio de 2010
Subscrever:
Mensagens (Atom)